segunda-feira, 3 de agosto de 2020

CARTAS IMPONDERÁVEIS DO SEISCENTISMO


(Apesar de não ser assunto estritamente maçônico, compartilho com vocês essa atualização de um dos meus blogs abordando um livro interessante sobre a formação do Brasil.)
CARTAS IMPONDERÁVEIS DO SEISCENTISMO
JoséMaurícioGuimarães

Continuo aqui na minha reclusa Bastilha, encarcerado e lendo.
Que mais posso fazer senão repetir o que sempre fiz? Se para Camões estava a linda Inês, posta em sossego, e de seus anos colhendo doce fruito, "viva eu cá na terra sempre triste" - sem  Dinamene e sem Inês - "lendo na memória, lendo e transformando", como fazia Borges. 
Hoje estou de cócoras lendo e transformando as "Primeiras Cartas do Brasil", de Sheila Moura Hue (Jorge Zahar Editora, 2006). Sim, de cócoras - e não me venham os boçais do politicamente correto corrigirem minha postura.
A posição agachada, ou 'de cócoras', era a preferida dos índios do Brasil - e ainda é dos mineiros, quando proseiam com pito de palha nos beiços. 'De cócoras', dizem os dicionários, tem etimologia de controversa origem ou mesmo obscura. Mas eu cá na minha torre, preso e algemado pelos chineses da Dinastia Shang, desconfio que "cócoras" vem de "cocoriar", o mesmo que cantar e "acocar", sinonímia de acariciar.
É dessa forma que "Primeiras Cartas do Brasil", de Sheila Moura Hue, canta o seiscentismo de 1551 a 1555 e acaricia nossa imaginação. São dez cartas, as primeiras produzidas no Brasil, "diretamente do front dos descobrimentos" e impressas em Coimbra.
A primeira carta é do Padre Manuel da Nóbrega, dando "informações das partes do Brasil". E o padre comenta sobre os nativos: "... nenhuma coisa própria têm que não seja comum, o que um tem reparte com os outros, principalmente se são coisas de comer..." - donde se conclui que o bom socialismo já estava presente em Pyndorama, 318 anos antes do renânio-prussiano Karl Heinrich Marx.
Outra carta elucidativa selecionada por Sheila Moura Hue é a de Pedro Correia (um irmão, talvez leigo) que relata esse milagre a um padre, em 1554:
"... e agora, depois que começaram a ser cristãos (os índios) revelou Nosso Senhor uma mina de ferro, aqui em sua terra..." 
Continuo de cócoras e matutando sobre essas coisas e de como o Senhor dos Mundos, em sua Onisciência, Onipotência e Onipresença, põe de lado seus mais elaborados afazeres (como desenhar as asas das borboletas) para mostrar aos colonizadores, por mãos de inocentes índios, uma mina de ferro, outra mina de ouro e o caminho das esmeraldas.
Apenas penso com meus botões e não faço contradição da espécie. Se um jesuíta nos dá conta dessas histórias, devemos tirar o chapéu em súplice reverência.

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