segunda-feira, 13 de julho de 2020

POR QUE OS VIGILANTES LEVANTAM e ABAIXAM SUAS COLUNETAS?



POR QUE OS VIGILANTES LEVANTAM e ABAIXAM SUAS COLUNETAS?
José Maurício Guimarães

Boa pergunta! Por que os Vigilantes levantam e abaixam suas colunetas? Uns dirão que é por tradição; outros hão de jurar de pé junto que a razão é esquisotérica. Você poderá ouvir alguém dizer que é questão ufológica: quando a coluneta está levantada, os ovnis podem levantar voo; quando estão deitadas, é para a nave mãe aterrissar.
Esses enigmas não acontecem, pelo que sei, em todas as Potências e/ou Obediências. Confirmo o hábito de levantarem e abaixarem colunetas na Grande Loja de Minas Gerais onde sou filiado. A maçonaria brasileira, contudo, é bem diversificada – muita coisa foi acrescentada por não sei quem (e ninguém sabe quem ou "quems"), nem onde, nem quando, nem a que preço. 
Mas deve haver uma razão, nem que seja de cunho transmutacional-episcopal. Se não, vejamos:  
Por que os Vigilantes levantam e abaixam suas colunetas? Uma Ordem que prega o uso da razão não pode balançar a cabeça diante de artigos de fé ou dogmas.
Se fôssemos uma escola de faquires, bastaria ficarmos olhando fixamente para a parede durante uns quinze minutos, sem piscar, e nos ocorreriam trezentas e sessenta e cinco explicações. A mente humana é prodigiosa: vê elefantes nas nuvens e o futuro dos homens na borra de café (cafeomancia).
Sempre evitei responder o porquê dessas ritualísticas mutantes e fiquei com os dois pés atrás diante das tais colunetas. Na verdade, eu nunca soube por que os Vigilantes levantam e abaixam esses apetrechos... e não ficaria bem para um maçom inventar explicações para coisas que não sabe.
Felizmente, a resposta veio da boa e velha França... (mais boa do que velha). Não vou indicar a fonte, pois Monsieur le professeur – um autêntico Pangloss de Voltaire − não me permite divulgar seu nome nem sua linhagem jacobina nem como ele consegue estar vivo e forte aos 119 anos. Mas garanto que o homem sabe o que fala; ele pensa em sânscrito e responde em francês baudelairiano. Nós é que sonhamos em javanês.
Vamos lá:
Para começo de conversa, as colunetas de aproximadamente 35 centímetros representavam, nos antigos rituais, as duas colunas do pórtico do Templo de Salomão − e não duas colunas gregas como essas (dórica e coríntia) que os desinformados inventores de maçonarias mandaram fabricar para os altares do norte e do sul.
Poderíamos parar por aqui e voltarmos só no ano que vem, quando essas colunetas fossem retificadas; ou quando os maçons brasileiros se dessem conta de que não há trono de Salomão no Templo. O Rei Salomão oficiava em seu palácio, noutra extremidade de Jerusalém. Quem oficiava no interior do Templo era o Sumo-Sacerdote, uma vez por ano. Leiam a Bíblia; está tudo lá. Não é ela o "Livro da Lei"? 
O Templo maçônico, tomado ao pé da letra e tautologicamente, tem pouco ou nada a ver com o Templo "de Salomão". Podem brigar comigo, sinto muito dizer essa verdade. Para quem não acredita, aconselho a leitura e estudo do livro "O Templo do Rei Salomão na Tradição Maçônica", de Alex Horne (da Quatuor Coronati Nº2076 da Grande Loja Unida da Inglaterra, UGLE − a primeira Loja de Pesquisas da história).
É mais absurdo falar de "templo maçônico de Salomão" do que estudar as raízes tradicionais da maçonaria na Ordem dos Templários. Assim, cada um escolhe suas teorias de acordo com seus conhecimentos... ou suas ignorâncias. Todas essas questões envolvem: 1) simbolismo; 2) simbologia (que não é a mesma coisa); 3) história e 4) antropologia − apesar de que nenhum de nós precisa ser doutor nessas áreas: basta usar o bom senso (conhecido entre nós por "juízo"). 
Já dizia Millôr Fernandes: "Há os que não sabem antropologia e os que ignoram trigonometria; mas de mim ninguém pode falar nada, pois minha ignorância não é especializada”. 
É esse o meu caso − pois tudo que não sei sempre ignorei sozinho... e prossigamos.
Nos antigos rituais essas colunetas ficavam com cada um dos Diáconos e não com o Vigilante. Sim, pois entre os operativos havia apenas um Vigilante. Só com os especulativos é que passaram a existir dois Vigilantes. Espero que os modernos "maçonólogos" não venham criar um "terceiro vigilante", pois na cabeça deles tudo tem que ser "três", da mesma forma que tudo é prego para quem tem cabeça de martelo.
Pois bem (ou pois mal), os Diáconos erguiam essas colunetas conforme a Loja estivesse aberta ou em descanso (em legítimo escocês: 'chamar do descanso ao trabalho e do trabalho à recreação').
Só no final do século XVIII é que providenciaram para que as colunetas ficassem com os Vigilantes; 'erguer e abaixar' foi uma inserção posterior, de 1780. As interpretações dualistas é que inventaram esse negócio de levantar uma e abaixar outra (como se maçonaria fosse apenas saber dar um nó na gravata e outro na cabeça dos neófitos); ninguém poderia conceber que uma coluna ficasse na vertical (prumo) e a outra não passasse para a horizontal (nível). O fato é que ambos (Vigilantes ou Diáconos) levantavam ou abaixavam ao mesmo tempo: as duas colunas em pé queriam dizer trabalho na Loja; deitadas, era descanso. Não podemos imaginar que a coluna do Primeiro Vigilante fique de pé (trabalho na Coluna do norte) e a do Segundo Vigilante permaneça deitada (todos dormindo na Coluna do sul), e/ou vice-versa.
No Templo de Salomão, as únicas duas colunas do pórtico estavam sempre de pé; quando ficaram na horizontal foi uma verdadeira tragédia: invadiram a cidade e destruíram o Templo... além do que uma levantada e outra abaixada é coxear e tombo na certa.
Finalizando com essa ironia, Monsieur le professeur respondeu, em francês, minha consulta. Aliás, nossa consulta, pois muitos Irmãos estavam perguntando o sentido disso e eu sempre respondi que não sabia. Agora sabemos.
Mas cuidado com a gramática: abaixar significa tornar-se baixo, descer ou passar de um nível alto para outro menos elevado; baixar, como verbo intransitivo, é outra coisa: "O Sol baixa no poente" (adjunto adverbial de lugar). Do mesmo modo, uma Loja não "bate" colunas, mas "abate" colunas. 
... e que ninguém se meta a mudar Rituais; deixem com está, pois Ritual é lei maçônica e, como tal, tem que ser obedecido. Se preciso for alterar alguma coisa, formem uma comissão de estudiosos e não um agrupamento de amigos.
Esse pequeno artigo é apenas uma divagação... "C'est une fantasie à moi", uma ilustração histórica sobre  dos antigos e maçonaria dos modernos.
Au revoir, mes amis!
(Ou, melhor ainda: adieu, my kith que é o modo escocês de burlar a vigilância da Coroa.)

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