terça-feira, 8 de setembro de 2020

LIVROS DA MINHA BIBLIOTECA


 LIVROS DA MINHA BIBLIOTECA 

José Maurício Guimarães

(em homenagem à memória de Arnaldo Xavier)

ROLAND EDIGHOFFER, professor emérito da Universidade de Paris III (Sorbonne nouvelle), dirigiu também o “Institut d'Allemand” de Asnières (Hauts-de-Seine) até sua aposentadoria em 1991. Especialista em Hermetismo e Rosacrucianismo, editou a revista Aries2 (Leyde, Brill) com Antoine Faivre e Pierre Deghaye. Antes de ser professor nas universidades de Paris, foi professor associado de alemão no ensino médio, notadamente no "Lycée Pasteur" em Neuilly-sur-Seine e na também Universidade de Rouen, Centro de Estudos e Pesquisas Austríacos. Roland Edighoffer vive ainda, com 93 anos em Neuilly-sur-Seine. Neste livro, Roland Edighoffer analisa a sociedade ideal segundo Johannes Valentinus Andreae. 

Johannes Valentinus Andreae é hoje considerado o autor desses textos surgidos no Século dezessete (os Manifestos). Nascido em 17 de agosto de 1586 e morto em 27 de junho de 1654, Valentinus Andreae foi um teólogo alemão de sólida formação luterana. Assim como Lutero concretizou os ideais de reforma do Cristianismo, Johannes Valentinus Andreae veio propor uma REFORMA da sociedade com bases Cristãs. Andreae foi um membro proeminente do movimento utópico protestante que começou na Alemanha e se espalhou pelo norte da Europa e na Grã-Bretanha sob a orientação de Samuel Hartlib e John Amos Comenius.

Precisamente por se tratar de um romance (de um conto mesmo, à maneira de de Chrétien de Troyes* a Goethe**), as características literárias a a estrutura dos textos rosacrucianos vão além do aspecto estritamente simbólico (alquímico). Regine Frey-Jaun lançou luz sobre esse assunto em 1989, ao considerar a "Festa de Casamento" (Bodas Alquímicas de Christian Rosenkeutzer) como uma parábola (alquímica), um texto literário com estrutura narrativa coerente e “uma intenção específica”. O estudo das ligações entre espiritualidade e criação literária também merece interesse, a fim de entendermos os textos dos chamados “Manifestos” como uma história anônima na qual se reflete uma experiência subjetiva que há séculos contribui para gerar uma dinâmica referente a uma "comunidade simbólica" (a Rosa-Croix), possuidora de um "Canon" (conceito, regra concernente à fé, à disciplina religiosa ou conjunto dos livros considerados de inspiração divina)

O método iniciático está descrito, de forma simbólica, no texto conhecido como “Chymische Hochzeit Christiani Rosencreutz anno 1459” (publicado em 1616, em Estrasburgo). A data 1459 faz parte do título da obra, daí muita confusão sobre as edições serem do século quinze ou do século dezessete. Noutras palavras: é um texto de 1616 contando uma história passada em 1459. Em Inglês, foi editado como “Chymical Wedding of Christian Rosenkreutz, 1459” e em português, “O Casamento ‘quimico’ de Christian Rosencreutz em 1459”. É uma das três obras fundamentais do rosacrucianismo, uma lenda e um fenômeno cultural que permaneceu em moda em toda a Europa naquele período.

O foco desse movimento era a necessidade de educação e o incentivo às ciências como chave para a prosperidade das nações (estados nacionais, na época). Mas, como muitos movimentos da Renascença, as ideais científicas eram frequentemente veiculadas pelo viés do hermetismo, do ocultismo e mediante conceitos neoplatônicos. As ameaças e acusações de heresia, impostas por rígidas autoridades religiosas (protestantes e católicas), e o clima intelectual reinante forçaram esses ativistas a se esconderem atrás de sociedades secretas fictícias e escreverem anonimamente suas ideias, enquanto reivindicavam acesso à "sabedoria ancestral secreta" (sabedoria que eles mesmos sabiam estar inacessível). O mesmo se deu, evidentemente, no campo da maçonaria – e essa pode ser a chave que os estudiosos da maçonaria perderam ao tentar estuda-la.

O “Chymische Hochzeit Christiani Rosencreutz anno 1459” foi editado em 1616, em Estrasburgo. Sua autoria permaneceu anônima até meados dos anos 1900, mas hoje é sabidamente atribuída a Johann Valentin Andreae. O “Casamento” é descrito como o terceiro dos manifestos originais da misteriosa "Fraternidade da Rosa Cruz" (os rosacruzes), embora seja marcadamente diferente do “Fama Fraternitatis” e do “Confessio Fraternitatis”, tanto no estilo com no assunto. Nenhum estudante sério do método de simbolismo rosacruciano ou maçônico conseguirá ir muito longe em seus estudos sem uma leitura crítica desses três documentos.

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* Chrétien de Troyes (c. 1135 – c. 1191) foi um poeta e trovador francês do final do século XII. Foi um dos primeiros autores de romances de cavalaria, sendo também considerado o primeiro grande novelista em língua francesa. Suas obras inspiraram a literatura em toda a Europa Ocidental durante a Idade Média.
** "Fausto", protagonista de uma popular lenda alemã, considerado símbolo cultural da modernidade.

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