Os estágios ainda adormecidos da Consciência sempre foram representados pela ÁGUA (segundo Edward F.Edinger em “Anatomia da Psique”): água >> Lua >> Mulher: “o sol e a lua têm sua origem nesta água, sua mãe, sendo necessário que nela voltem a entrar, isto é, no útero de sua mãe, para que possam ser regenerados ou nascer de novo, e com mais saúde, mais nobreza e mais força” (assim descrito nos tratados de alquimia – “Secret Book of Artephius”, in “The Lives of the Alchemystical Philosophers). O mesmo aparece de forma aparentemente misteriosa quando Jesus disse:
“Ninguém pode ver o Reino de Deus, se não nascer de novo" (João 3:3) - Perguntou Nicodemos: "Como alguém pode nascer, sendo velho? É claro que não pode entrar pela segunda vez no ventre de sua mãe e renascer!" E a resposta foi: “ O vento sopra onde quer, ouves a sua voz, mas não sabes donde vem, nem para onde vai; assim é todo o que é nascido do Espírito” (João 3: 8).
Jesus falava simbolicamente (por parábolas) à moda dos pensadores do Oriente: “nascer de novo” não quer dizer nascer outra vez; “o vento” e “a voz do vento” não significam o vento comum que conhecemos - o ar atmosférico em movimento – nem iríamos imaginar que o ar atmosférico tivesse “voz”.
Essa mulher deitada, com a cabeça apoiada num dos braços e fitando a água, não foi retratada assim por acaso. Veja que ela parece alheia a tudo o que acontece em volta – é uma inconsciência, um mergulho do pensamento nas profundezas da água, em busca de renascimento (a vida vem das águas). Mas o renascimento físico é uma ilusão da mente; por isso o iniciando abre as mãos num gesto de acolhimento e disposto a receber a “mulher” e caminhar com ela em direção à luz eterna.
Esse simbolismo deve ser visto como algo que opera por meios metafóricos e alegóricos. Não existe essa água, nem esse lago, nem essa mulher inerte às margens. Útero, mulher e renascimento são palavras que designam outras “realidades” que têm uma relação de SEMELHANÇA. São modos de expressão ou interpretações que consistem em representar pensamentos ABSTRATOS e ideias sob forma figurada. Todo o pensamento antigo fez uso dessas técnicas e método de interpretação: os pensadores gregos, os textos homéricos, por meio dos quais se pretendia descobrir ideias ou concepções filosóficas embutidas figurativamente nas narrativas. A Maçonaria nasceu dessas técnicas (os “Antigos Aceitos” eram todos filósofos, muitos deles membros da Royal Society); mas com as lutas pelo poder e exageros das vaidades pessoais tais técnicas e interpretações se perderam.